O deserto de Atacama,
no norte do Chile estendendo-se até o sul do Peru, é considerado o mais
seco e, segundo alguns especialistas, o mais velho do planeta. Ali foram
descobertas as múmias mais antigas do mundo: as múmias da cultura
Chinchorro, com mais de 7 mil anos de idade.
Elas vieram à luz em 1917 graças ao trabalho de Federico Max Uhle,
arqueólogo alemão que realizou importantes escavações no Peru, Chile,
Equador e Bolívia. Mais recentemente, em outubro de 1983, a companhia de
água Arica, ao realizar perfurações no deserto, encontrou um cemitério
com 96 múmias Chinchorro: 27 do múmias mulheres, 20 do sexo masculino, 7
indeterminadas e 42 de crianças.
As múmias Chinchorro, no Atacama
A múmia de uma criança Chinchorro, enterrada no Vale do Camarones, ao
sul de Arica, foi datada por radiocarbono em 5050 a.C. Isso a torna dois
mil anos mais velha do que a mais antiga múmia do Egito Antigo.
O que chama a atenção dos especialistas, é o fato dos Chinchorro
realizarem mumificações em todos os membros de sua sociedade,
independentemente da idade ou status – homens, mulheres, jovens, idosos,
crianças, bebês e até fetos abortados – o que permite observações
arqueológicas significativas sobre essa cultura.
Das 282 múmias encontradas até agora, 29% delas eram resultado do
processo natural de mumificação favorecido pelas condições ambientais:
solo rico em nitratos combinado com a aridez do deserto. Os demais
corpos, foram mumificados artificialmente seguindo uma técnica que
variou ao longo do tempo. Foram encontrados grupos de até seis pessoas,
possivelmente membros da mesma família, deitados lado a lado.
Múmia de bebê Chinchorro.
Múmia de bebê Chinchorro.
Processo de mumificação dos Chinchorros
Durante mais de três mil anos, os Chinchorros mumificaram seus mortos.
Mas ao longo desse tempo (de 5050 a.C. a 1800 a.C.) o processo tornou-se
mais complexo.
A técnica mais antiga (5000 a 3000 a.C.), chamada de mumificação preta, o
corpo era seco ao calor e tinha a carne e órgãos removidos, incluindo o
cérebro, usando-se facas e espátulas de pedra. Mãos e pés eram
preservados. Retirava-se a pele com cuidado e talvez ficasse imersa em
água do mar para mantê-la macia e flexível, pois seria reutilizada. O
esqueleto era desmembrado, limpo e novamente remontado. Para estabilizar
o esqueleto, amarravam galhos e juncos nos ossos; uma vara reta prendia
o crânio à coluna vertebral.
Uma pasta feita de cinzas, grama, pelos, sangue de leão marinho, ovos de
aves ou cola de peixe cobria todo o esqueleto dando-lhe volume. A pasta
servia também para modelar os órgãos sexuais e para uma máscara com
olhos, nariz e boca que compunham os traços faciais do morto.
Em seguida a pele era recolocada, às vezes completada com pele de leão
marinho. A pele era pintada com manganês preto o que dava a sua cor. Uma
peruca de cabelo humano era colada no crânio.
A partir de 3000 a.C., o manganês preto, talvez mais difícil de ser
encontrado, foi substituído pelo ocre vermelho, muito comum nas rochas
perto de Arica. A mumificação vermelha tinha uma técnica diferente: em
vez de desmontar o corpo, faziam-se muitas incisões para remover os
órgãos internos e secar a cavidade do corpo. O corpo era preenchido com
vários materiais para lhe dar volume. As incisões eram costuradas com
cabelo humano e utilizando um espinho de cacto como agulha. A peruca
tinha cabelos mais longos, com até 60 cm de comprimento. Todo corpo era
pintado de ocre vermelho. Algumas múmias apresentam várias camadas de
tinta, indicando que elas receberam retoques periódicos devido ao
desgaste.
A terceira e última técnica de mumificação, realizada a partir de 2000
a.C. era a cobrir todo o corpo com uma espessa camada de argila, areia e
cola de peixe. O corpo era conservado intacto, mantendo-se, inclusive,
os órgãos internos.
Processo de mumificação Chinchorro
Processo de mumificação Chinchorro.
O que as múmias revelam sobre os Chinchorros
Os Chinchorros vieram dos Andes, descendo os rios da cordilheira até o
mar. Estabeleceram-se na costa desértica do Chile e Peru por volta de
7000 a.C. atraídos pela abundância de recursos: anchovas, solha,
corbina, algas, mexilhões, caranguejos, focas, leões marinhos,
pelicanos, gaivotas e outros pássaros.
Ao contrário do que se supunha inicialmente, os Chinchorros não eram
nômades. Eles construíram aldeias permanentes de pesca onde viviam em
torno de 30 a 50 pessoas. Estabelecidos em um lugar, eles puderam
construir cemitérios onde realizavam ritos funerários possivelmente de
veneração aos ancestrais. O cuidado com as múmias era um ritual que
visava obter a proteção dos antepassados.
Análises dos ossos e do conteúdo dos intestinos das múmias mostraram que
os Chinchorro mantiveram a mesma dieta por cinco mil anos. Grande parte
dela (75%) derivava da pesca marinha. O peixe era comido cru ou
parcialmente cozido conforme atesta a presença de tênia no intestino de
19% das múmias. A dieta era completada com guanaco e veado caçados, e a
coleta de tomates silvestres e hortelã.
A expectativa média de vida dos Chinchorros era de cerca de 25 anos.
Alguns adultos, contudo, atingiram os 30 anos e, uns poucos, chegaram
aos 50 anos, uma longa vida para qualquer um na pré-história.
Múmia de mulher Chinchorro.
Múmia de mulher Chinchorro.
Ao analisar os crânios, observou-se um alto índice de exostose auditiva
(crescimento ósseo anormal) devido aos repetidos mergulhos, sem proteção
auditiva, na água fria. Quase todos eram adultos do sexo masculino, o
que indica que a pesca marinha era trabalho dos homens. Cerca de 18%
deles tinham fraturas na parte inferior das costas ou artrite da coluna
vertebral ocasionadas, possivelmente, por escorregões dos mergulhadores
na costa rochosa.
Entre as múmias mulheres, uma em cada cinco sofreu fraturas por
compressão das vértebras, resultado do declínio da densidade óssea.
Numerosas e seguidas gestações (a julgar pelo número de crianças)
debilitaram as mães por tomaram-lhes cálcio e outros nutrientes do seu
sangue e ossos.
A difícil conservação das múmias
As múmias Chinchorro estão guardadas no Museu Arqueológico San Miguel de
Azapa, vinculado à Universidade de Tarapacá, na província de Arica, no
norte do Chile. Extraídas de seu local de origem e expostas a danos por
manuseio e de mudanças de clima, muitas múmias deterioraram-se mais na
última década do que nos 5000 anos anteriores.
O armazenamento adequado é caro e difícil. As múmias são frágeis, uma
pequena batida no braço ou perna pode parti-lo em pedaços. Precisam de
um ambiente com rigoroso controle de luz, temperatura e umidade.
Sem essa proteção, uma das coleções arqueológicas mais surpreendentes da
América pode virar pó antes que as múmias revelem mais segredos de
nossos ancestrais.
Múmia de criança Chinchorro.
Múmia de criança Chinchorro.
Fonte
ARRIAZA, Bernardo. Beyond Death: The Chinchorro Momies of Ancient
Chile. Washington: Smithsonian Press, 1995.
_________. Chile’s Chinchorro Mummies. National Geographic, março
1995.
Obrigado por compartilhar. Lembre-se de citar a fonte: http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/mumias-atacama-mais-antigas-do-mundo/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues
Obrigado por compartilhar. Lembre-se de citar a fonte: http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/mumias-atacama-mais-antigas-do-mundo/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues
O deserto de Atacama,
no norte do Chile estendendo-se até o sul do Peru, é considerado o mais
seco e, segundo alguns especialistas, o mais velho do planeta. Ali foram
descobertas as múmias mais antigas do mundo: as múmias da cultura
Chinchorro, com mais de 7 mil anos de idade.
Elas vieram à luz em 1917 graças ao trabalho de Federico Max Uhle,
arqueólogo alemão que realizou importantes escavações no Peru, Chile,
Equador e Bolívia. Mais recentemente, em outubro de 1983, a companhia de
água Arica, ao realizar perfurações no deserto, encontrou um cemitério
com 96 múmias Chinchorro: 27 do múmias mulheres, 20 do sexo masculino, 7
indeterminadas e 42 de crianças.
As múmias Chinchorro, no Atacama
A múmia de uma criança Chinchorro, enterrada no Vale do Camarones, ao
sul de Arica, foi datada por radiocarbono em 5050 a.C. Isso a torna dois
mil anos mais velha do que a mais antiga múmia do Egito Antigo.
O que chama a atenção dos especialistas, é o fato dos Chinchorro
realizarem mumificações em todos os membros de sua sociedade,
independentemente da idade ou status – homens, mulheres, jovens, idosos,
crianças, bebês e até fetos abortados – o que permite observações
arqueológicas significativas sobre essa cultura.
Das 282 múmias encontradas até agora, 29% delas eram resultado do
processo natural de mumificação favorecido pelas condições ambientais:
solo rico em nitratos combinado com a aridez do deserto. Os demais
corpos, foram mumificados artificialmente seguindo uma técnica que
variou ao longo do tempo. Foram encontrados grupos de até seis pessoas,
possivelmente membros da mesma família, deitados lado a lado.
Múmia de bebê Chinchorro.
Múmia de bebê Chinchorro.
Processo de mumificação dos Chinchorros
Durante mais de três mil anos, os Chinchorros mumificaram seus mortos.
Mas ao longo desse tempo (de 5050 a.C. a 1800 a.C.) o processo tornou-se
mais complexo.
A técnica mais antiga (5000 a 3000 a.C.), chamada de mumificação preta, o
corpo era seco ao calor e tinha a carne e órgãos removidos, incluindo o
cérebro, usando-se facas e espátulas de pedra. Mãos e pés eram
preservados. Retirava-se a pele com cuidado e talvez ficasse imersa em
água do mar para mantê-la macia e flexível, pois seria reutilizada. O
esqueleto era desmembrado, limpo e novamente remontado. Para estabilizar
o esqueleto, amarravam galhos e juncos nos ossos; uma vara reta prendia
o crânio à coluna vertebral.
Uma pasta feita de cinzas, grama, pelos, sangue de leão marinho, ovos de
aves ou cola de peixe cobria todo o esqueleto dando-lhe volume. A pasta
servia também para modelar os órgãos sexuais e para uma máscara com
olhos, nariz e boca que compunham os traços faciais do morto.
Em seguida a pele era recolocada, às vezes completada com pele de leão
marinho. A pele era pintada com manganês preto o que dava a sua cor. Uma
peruca de cabelo humano era colada no crânio.
A partir de 3000 a.C., o manganês preto, talvez mais difícil de ser
encontrado, foi substituído pelo ocre vermelho, muito comum nas rochas
perto de Arica. A mumificação vermelha tinha uma técnica diferente: em
vez de desmontar o corpo, faziam-se muitas incisões para remover os
órgãos internos e secar a cavidade do corpo. O corpo era preenchido com
vários materiais para lhe dar volume. As incisões eram costuradas com
cabelo humano e utilizando um espinho de cacto como agulha. A peruca
tinha cabelos mais longos, com até 60 cm de comprimento. Todo corpo era
pintado de ocre vermelho. Algumas múmias apresentam várias camadas de
tinta, indicando que elas receberam retoques periódicos devido ao
desgaste.
A terceira e última técnica de mumificação, realizada a partir de 2000
a.C. era a cobrir todo o corpo com uma espessa camada de argila, areia e
cola de peixe. O corpo era conservado intacto, mantendo-se, inclusive,
os órgãos internos.
Processo de mumificação Chinchorro
Processo de mumificação Chinchorro.
O que as múmias revelam sobre os Chinchorros
Os Chinchorros vieram dos Andes, descendo os rios da cordilheira até o
mar. Estabeleceram-se na costa desértica do Chile e Peru por volta de
7000 a.C. atraídos pela abundância de recursos: anchovas, solha,
corbina, algas, mexilhões, caranguejos, focas, leões marinhos,
pelicanos, gaivotas e outros pássaros.
Ao contrário do que se supunha inicialmente, os Chinchorros não eram
nômades. Eles construíram aldeias permanentes de pesca onde viviam em
torno de 30 a 50 pessoas. Estabelecidos em um lugar, eles puderam
construir cemitérios onde realizavam ritos funerários possivelmente de
veneração aos ancestrais. O cuidado com as múmias era um ritual que
visava obter a proteção dos antepassados.
Análises dos ossos e do conteúdo dos intestinos das múmias mostraram que
os Chinchorro mantiveram a mesma dieta por cinco mil anos. Grande parte
dela (75%) derivava da pesca marinha. O peixe era comido cru ou
parcialmente cozido conforme atesta a presença de tênia no intestino de
19% das múmias. A dieta era completada com guanaco e veado caçados, e a
coleta de tomates silvestres e hortelã.
A expectativa média de vida dos Chinchorros era de cerca de 25 anos.
Alguns adultos, contudo, atingiram os 30 anos e, uns poucos, chegaram
aos 50 anos, uma longa vida para qualquer um na pré-história.
Múmia de mulher Chinchorro.
Múmia de mulher Chinchorro.
Ao analisar os crânios, observou-se um alto índice de exostose auditiva
(crescimento ósseo anormal) devido aos repetidos mergulhos, sem proteção
auditiva, na água fria. Quase todos eram adultos do sexo masculino, o
que indica que a pesca marinha era trabalho dos homens. Cerca de 18%
deles tinham fraturas na parte inferior das costas ou artrite da coluna
vertebral ocasionadas, possivelmente, por escorregões dos mergulhadores
na costa rochosa.
Entre as múmias mulheres, uma em cada cinco sofreu fraturas por
compressão das vértebras, resultado do declínio da densidade óssea.
Numerosas e seguidas gestações (a julgar pelo número de crianças)
debilitaram as mães por tomaram-lhes cálcio e outros nutrientes do seu
sangue e ossos.
A difícil conservação das múmias
As múmias Chinchorro estão guardadas no Museu Arqueológico San Miguel de
Azapa, vinculado à Universidade de Tarapacá, na província de Arica, no
norte do Chile. Extraídas de seu local de origem e expostas a danos por
manuseio e de mudanças de clima, muitas múmias deterioraram-se mais na
última década do que nos 5000 anos anteriores.
O armazenamento adequado é caro e difícil. As múmias são frágeis, uma
pequena batida no braço ou perna pode parti-lo em pedaços. Precisam de
um ambiente com rigoroso controle de luz, temperatura e umidade.
Sem essa proteção, uma das coleções arqueológicas mais surpreendentes da
América pode virar pó antes que as múmias revelem mais segredos de
nossos ancestrais.
Múmia de criança Chinchorro.
Múmia de criança Chinchorro.
Fonte
ARRIAZA, Bernardo. Beyond Death: The Chinchorro Momies of Ancient
Chile. Washington: Smithsonian Press, 1995.
_________. Chile’s Chinchorro Mummies. National Geographic, março
1995.
Obrigado por compartilhar. Lembre-se de citar a fonte: http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/mumias-atacama-mais-antigas-do-mundo/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues
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O deserto de Atacama,
no norte do Chile estendendo-se até o sul do Peru, é considerado o mais
seco e, segundo alguns especialistas, o mais velho do planeta. Ali foram
descobertas as múmias mais antigas do mundo: as múmias da cultura
Chinchorro, com mais de 7 mil anos de idade.
Elas vieram à luz em 1917 graças ao trabalho de Federico Max Uhle,
arqueólogo alemão que realizou importantes escavações no Peru, Chile,
Equador e Bolívia. Mais recentemente, em outubro de 1983, a companhia de
água Arica, ao realizar perfurações no deserto, encontrou um cemitério
com 96 múmias Chinchorro: 27 do múmias mulheres, 20 do sexo masculino, 7
indeterminadas e 42 de crianças.
As múmias Chinchorro, no Atacama
A múmia de uma criança Chinchorro, enterrada no Vale do Camarones, ao
sul de Arica, foi datada por radiocarbono em 5050 a.C. Isso a torna dois
mil anos mais velha do que a mais antiga múmia do Egito Antigo.
O que chama a atenção dos especialistas, é o fato dos Chinchorro
realizarem mumificações em todos os membros de sua sociedade,
independentemente da idade ou status – homens, mulheres, jovens, idosos,
crianças, bebês e até fetos abortados – o que permite observações
arqueológicas significativas sobre essa cultura.
Das 282 múmias encontradas até agora, 29% delas eram resultado do
processo natural de mumificação favorecido pelas condições ambientais:
solo rico em nitratos combinado com a aridez do deserto. Os demais
corpos, foram mumificados artificialmente seguindo uma técnica que
variou ao longo do tempo. Foram encontrados grupos de até seis pessoas,
possivelmente membros da mesma família, deitados lado a lado.
Múmia de bebê Chinchorro.
Múmia de bebê Chinchorro.
Processo de mumificação dos Chinchorros
Durante mais de três mil anos, os Chinchorros mumificaram seus mortos.
Mas ao longo desse tempo (de 5050 a.C. a 1800 a.C.) o processo tornou-se
mais complexo.
A técnica mais antiga (5000 a 3000 a.C.), chamada de mumificação preta, o
corpo era seco ao calor e tinha a carne e órgãos removidos, incluindo o
cérebro, usando-se facas e espátulas de pedra. Mãos e pés eram
preservados. Retirava-se a pele com cuidado e talvez ficasse imersa em
água do mar para mantê-la macia e flexível, pois seria reutilizada. O
esqueleto era desmembrado, limpo e novamente remontado. Para estabilizar
o esqueleto, amarravam galhos e juncos nos ossos; uma vara reta prendia
o crânio à coluna vertebral.
Uma pasta feita de cinzas, grama, pelos, sangue de leão marinho, ovos de
aves ou cola de peixe cobria todo o esqueleto dando-lhe volume. A pasta
servia também para modelar os órgãos sexuais e para uma máscara com
olhos, nariz e boca que compunham os traços faciais do morto.
Em seguida a pele era recolocada, às vezes completada com pele de leão
marinho. A pele era pintada com manganês preto o que dava a sua cor. Uma
peruca de cabelo humano era colada no crânio.
A partir de 3000 a.C., o manganês preto, talvez mais difícil de ser
encontrado, foi substituído pelo ocre vermelho, muito comum nas rochas
perto de Arica. A mumificação vermelha tinha uma técnica diferente: em
vez de desmontar o corpo, faziam-se muitas incisões para remover os
órgãos internos e secar a cavidade do corpo. O corpo era preenchido com
vários materiais para lhe dar volume. As incisões eram costuradas com
cabelo humano e utilizando um espinho de cacto como agulha. A peruca
tinha cabelos mais longos, com até 60 cm de comprimento. Todo corpo era
pintado de ocre vermelho. Algumas múmias apresentam várias camadas de
tinta, indicando que elas receberam retoques periódicos devido ao
desgaste.
A terceira e última técnica de mumificação, realizada a partir de 2000
a.C. era a cobrir todo o corpo com uma espessa camada de argila, areia e
cola de peixe. O corpo era conservado intacto, mantendo-se, inclusive,
os órgãos internos.
Processo de mumificação Chinchorro
Processo de mumificação Chinchorro.
O que as múmias revelam sobre os Chinchorros
Os Chinchorros vieram dos Andes, descendo os rios da cordilheira até o
mar. Estabeleceram-se na costa desértica do Chile e Peru por volta de
7000 a.C. atraídos pela abundância de recursos: anchovas, solha,
corbina, algas, mexilhões, caranguejos, focas, leões marinhos,
pelicanos, gaivotas e outros pássaros.
Ao contrário do que se supunha inicialmente, os Chinchorros não eram
nômades. Eles construíram aldeias permanentes de pesca onde viviam em
torno de 30 a 50 pessoas. Estabelecidos em um lugar, eles puderam
construir cemitérios onde realizavam ritos funerários possivelmente de
veneração aos ancestrais. O cuidado com as múmias era um ritual que
visava obter a proteção dos antepassados.
Análises dos ossos e do conteúdo dos intestinos das múmias mostraram que
os Chinchorro mantiveram a mesma dieta por cinco mil anos. Grande parte
dela (75%) derivava da pesca marinha. O peixe era comido cru ou
parcialmente cozido conforme atesta a presença de tênia no intestino de
19% das múmias. A dieta era completada com guanaco e veado caçados, e a
coleta de tomates silvestres e hortelã.
A expectativa média de vida dos Chinchorros era de cerca de 25 anos.
Alguns adultos, contudo, atingiram os 30 anos e, uns poucos, chegaram
aos 50 anos, uma longa vida para qualquer um na pré-história.
Múmia de mulher Chinchorro.
Múmia de mulher Chinchorro.
Ao analisar os crânios, observou-se um alto índice de exostose auditiva
(crescimento ósseo anormal) devido aos repetidos mergulhos, sem proteção
auditiva, na água fria. Quase todos eram adultos do sexo masculino, o
que indica que a pesca marinha era trabalho dos homens. Cerca de 18%
deles tinham fraturas na parte inferior das costas ou artrite da coluna
vertebral ocasionadas, possivelmente, por escorregões dos mergulhadores
na costa rochosa.
Entre as múmias mulheres, uma em cada cinco sofreu fraturas por
compressão das vértebras, resultado do declínio da densidade óssea.
Numerosas e seguidas gestações (a julgar pelo número de crianças)
debilitaram as mães por tomaram-lhes cálcio e outros nutrientes do seu
sangue e ossos.
A difícil conservação das múmias
As múmias Chinchorro estão guardadas no Museu Arqueológico San Miguel de
Azapa, vinculado à Universidade de Tarapacá, na província de Arica, no
norte do Chile. Extraídas de seu local de origem e expostas a danos por
manuseio e de mudanças de clima, muitas múmias deterioraram-se mais na
última década do que nos 5000 anos anteriores.
O armazenamento adequado é caro e difícil. As múmias são frágeis, uma
pequena batida no braço ou perna pode parti-lo em pedaços. Precisam de
um ambiente com rigoroso controle de luz, temperatura e umidade.
Sem essa proteção, uma das coleções arqueológicas mais surpreendentes da
América pode virar pó antes que as múmias revelem mais segredos de
nossos ancestrais.
Múmia de criança Chinchorro.
Múmia de criança Chinchorro.
Fonte
ARRIAZA, Bernardo. Beyond Death: The Chinchorro Momies of Ancient
Chile. Washington: Smithsonian Press, 1995.
_________. Chile’s Chinchorro Mummies. National Geographic, março
1995.
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