domingo, 12 de março de 2017

Fogo grego: O lança-chamas da Idade Média

Em 677, as tropas do califa Yazid comemoravam quatro anos às portas de Constantinopla. Repetidas vezes, os invasores tentavam quebrar as defesas da cidade e, frustrados, atravessavam o Mar de Marmara para recuperarem as forças na cidade ocupada de Cízico, a 13 km da capital. Ainda que as muralhas resistissem, os árabes eram uma séria ameaça.
Os bizantinos (ou romanos, como chamavam a si próprios, ainda que falassem grego) resolveram tomar a iniciativa. Seus navios avançaram pelo mar para interceptar a frota árabe. Seus dromons eram galeras parecidas com as trirremes da antiguidade, mas sem a capacidade de destruir navios a trombadas.
Normalmente, esses barcos portavam catapultas e arqueiros. Foi com alguma surpresa que os árabes os viram se aproximar cada vez mais, até poucos metros de distância. Então, surgiu um barulho infernal, como um trovão, e uma torrente de fogo saiu dos navios inimigos. O líquido incendiário era pegajoso, impossível de tirar da madeira e das roupas. Jogar-se ao mar não adiantava, porque ele também queimava sobre a água. A frota islâmica foi aniquilada.
Assim estreou o fogo grego, um lança-chamas medieval que atingia alvos a 15 metros e cujas chamas não eram extintas por água. Era uma arma secreta: cada fase da produção do líquido e dos lança-chamas ocorria separadamente, de forma que ninguém conhecesse o processo inteiro. Mesmo povos que conseguiram capturar navios intactos, com o combustível, não foram capazes de replicar a fórmula.
Historiadores acreditam que a base fosse petróleo, com resinas vegetais e gordura animal para tornar a mistura mais espessa, disparada de uma espécie de panela de pressão ligada a uma bomba. Nunca replicado, o fogo grego garantiu a sobrevivência do Império Romano do Oriente por quase oito séculos, até ser confrontado com outra novidade ainda mais letal: os canhões do Império Otomano.

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