Antes de iniciar este texto quero narrar uma história verídica que
presenciei. Sou Coordenador do SINE (Sistema Nacional do Emprego) e
iniciamos um projeto de divulgação de profissionais domésticos. Certo
dia, compareceu no SINE uma senhora loira, perfumada, com a chave de um
carro importado em suas mãos e me fez o seguinte pedido: “Boa tarde, é
aqui que a gente contrata empregada? Eu gostaria de ver as que tem
disponíveis, vê para mim algumas negras de canela grossa, pois aprendi
com a minha mãe que escrava boa é que tem canela grossa.” Por um minuto
imaginei que aquilo não estivesse acontecendo, mas consternado, realizei
uma reprimenda àquela senhora e informei que racismo é crime.
Imediatamente a elegante senhora foi embora debochando. Sim, isso
ocorreu em 2020.
No ano de 1876 Leopoldina possuía a maior população de escravizados da Província de Minas Gerais, com 15.253. Isso mesmo: a maior de Minas Gerais. Em 1883 esse total passou a 16.000. Em decorrência da explosão econômica cafeeira servida pela extensa população escravizada, Leopoldina possuía uma relevância econômico-política bem significante nos cenários estadual e nacional. Diante deste cenário, os fazendeiros da cidade ostentavam um padrão de vida quase aristocrático, copiando a corte imperial do Rio de Janeiro.
Quando se aproxima a culminância da abolição da escravatura no Brasil, os senhores de escravos leopoldineses da época, iniciaram uma campanha ferrenha junto à Corte, a deputados e Senadores no sentido de impedir que se abolisse a prática escravagista. Até que no dia 13 de Maio de 1888, a alta sociedade leopoldinense recebe consternada a notícia da abolição da escravatura. A reação dos donos de escravos foi covarde e violenta com a população negra, os renegando à condição de humilhação, preconceito e intimidação. Além disso cobraram da Corte altos valores de indenização pelo prejuízo financeiro com a perda de seus escravizados.
Esse é o nosso DNA social leopoldinense. Fazendeiros que se consideravam aristocratas, inconformados em não poder subjugar legalmente outros seres humanos. Queriam permanecer sendo donos de pessoas. Muitos, ainda querem. A opressão e intimidação está à espreita em nossa cidade. Ainda vemos hoje fortes resquícios desta cultura de submissão, tanto por parte de parcela da sociedade que ainda se julga aristocrata (ainda pensa ser superior a outros e possuir credibilidade para se manifestar), quanto por outra que se reprime por se considerar intimidada, devido a tantos anos de joelho no pescoço sufocando (se cala, se conforma) dando continuidade a esse ciclo de opressão e atraso.
Temos avançado, tem existido resistência e superação, mas ainda é pouco diante do necessário para que seja feita a compensação da injustiça histórica.
Continua...
Mas eu queria saber, você já sofreu ou presenciou episódio de racismo ou intimidação social em nossa cidade?
#vidasnegrasimportam
#antiracismo
#antifascismo
#pelademocracia
Fontes:
JOSÉ, Oiliam. A Abolição em Minas. Belo Horizonte; Itatiaia, 1962. p.137
LEGITIMIDADE, COMPADRIO E MORTALIDADE DE ESCRAVOS
Freguesias de Minas Gerais e Rio de Janeiro, Século XIX
Rômulo Andrade - UFRRJ/1995
https://cantoni.pro.br/…/alguns-fatos-da-historia-de-leopo…/ - Nilza Cantoni
No ano de 1876 Leopoldina possuía a maior população de escravizados da Província de Minas Gerais, com 15.253. Isso mesmo: a maior de Minas Gerais. Em 1883 esse total passou a 16.000. Em decorrência da explosão econômica cafeeira servida pela extensa população escravizada, Leopoldina possuía uma relevância econômico-política bem significante nos cenários estadual e nacional. Diante deste cenário, os fazendeiros da cidade ostentavam um padrão de vida quase aristocrático, copiando a corte imperial do Rio de Janeiro.
Quando se aproxima a culminância da abolição da escravatura no Brasil, os senhores de escravos leopoldineses da época, iniciaram uma campanha ferrenha junto à Corte, a deputados e Senadores no sentido de impedir que se abolisse a prática escravagista. Até que no dia 13 de Maio de 1888, a alta sociedade leopoldinense recebe consternada a notícia da abolição da escravatura. A reação dos donos de escravos foi covarde e violenta com a população negra, os renegando à condição de humilhação, preconceito e intimidação. Além disso cobraram da Corte altos valores de indenização pelo prejuízo financeiro com a perda de seus escravizados.
Esse é o nosso DNA social leopoldinense. Fazendeiros que se consideravam aristocratas, inconformados em não poder subjugar legalmente outros seres humanos. Queriam permanecer sendo donos de pessoas. Muitos, ainda querem. A opressão e intimidação está à espreita em nossa cidade. Ainda vemos hoje fortes resquícios desta cultura de submissão, tanto por parte de parcela da sociedade que ainda se julga aristocrata (ainda pensa ser superior a outros e possuir credibilidade para se manifestar), quanto por outra que se reprime por se considerar intimidada, devido a tantos anos de joelho no pescoço sufocando (se cala, se conforma) dando continuidade a esse ciclo de opressão e atraso.
Temos avançado, tem existido resistência e superação, mas ainda é pouco diante do necessário para que seja feita a compensação da injustiça histórica.
Continua...
Mas eu queria saber, você já sofreu ou presenciou episódio de racismo ou intimidação social em nossa cidade?
#vidasnegrasimportam
#antiracismo
#antifascismo
#pelademocracia
Fontes:
JOSÉ, Oiliam. A Abolição em Minas. Belo Horizonte; Itatiaia, 1962. p.137
LEGITIMIDADE, COMPADRIO E MORTALIDADE DE ESCRAVOS
Freguesias de Minas Gerais e Rio de Janeiro, Século XIX
Rômulo Andrade - UFRRJ/1995
https://cantoni.pro.br/…/alguns-fatos-da-historia-de-leopo…/ - Nilza Cantoni
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