segunda-feira, 12 de setembro de 2016
A Travessia do Atlântico.
Atravessar o oceano Atlântico naquela época não uma tarefa simples. Mesmo marinheiros experientes encontravam dificuldades, como tempestades, ausência de ventos (ou ventos contrários), falta de comida, calor, doenças e cansaço. A viagem até o Brasil durava cerca de dois meses. Em novembro de 1807, os navios que levariam a corte portuguesa ao Rio de Janeiro partiram lotados. Nem todas as pessoas puderam ser acomodadas devidamente. Muitas ficaram sem camarote e foram obrigadas a dormir no convés. Os ambientes internos eram fechados e sem ventilação. Nos depósitos de mantimentos proliferavam ratos, baratas e carunchos (insetos que perfuram os cereais). A alimentação era precária e escassa: na pressa da fuga, muitos alimentos foram deixados na cais do Porto de Belém, em Lisboa. As refeições eram compostas principalmente de biscoitos, lentilha, repolho azedo e carne salgada ( de porco ou de bacalhau). Não havia água corrente. A falta de higiene e de saneamento agravava a situação (como não havia banheiros, os dejetos eram jogados diretamente no mar). Nessas condições, os piolhos começaram a proliferar. Para combatê-los, em algumas embarcações as mulheres foram obrigadas a raspar os cabelos e untar a cabeça com banha de porco. Entre elas estava a princesa Carlota Joaquina, esposa de dom João. Durante a viagem, dom João decidiu fazer uma escala em Salvador, antiga capital da colônia. Sua intenção era assegurar a fidelidade da população local e do restante do Nordeste ao governo. Assim, enquanto algumas embarcações prosseguiram rumo ao Rio de Janeiro, outras se dirigiram para Salvador, onde aportaram em 22 de janeiro de 1808. Em uma dessas embarcações estava o príncipe regente dom João e sua mulher, a princesa Carlota Joaquina. Na Bahia, dom João assinou um documento no qual, entre outras medidas, abria os portos do Brasil ás nações amigas. Assim, a colônia poderis estabelecer relações comerciais com muitos países, principalmente com a Inglaterra. Até então, os portos brasileiros só podiam receber mercadorias vindas de Portugal. Na prática, a medida rompia com o sistema estabelecido pelo governo de Portugal desde os primeiros tempos da colonização. Esse sistema, chamado de "pacto colonial", garantia aos portugueses o monopólio comercial do Brasil colônia. Ou seja, nenhum outro país podia praticar o comércio com a colônia portuguesa, além da metrópole. Com a abertura dos portos ás nações amigas, esse privilégio chegava ao fim. Em 1810, entrariam em vigor alguns outros tratados de amizade e comércio estabelecidos com os ingleses, cujos produtos chegavam ao Brasil com impostos reduzidos. A partir de então, o Brasil passou a receber quantidades cada vez maiores de artigos importados da Inglaterra. Tecidos de algodão, cordas, pregos, ferramentas, utensílios para casa e até produtos que aqui não tinham utilidades, como é o caso de patins de gelo. Eram todos produtos ingleses que invadiram o mercado colonial. Em 7 de março de 1808, o príncipe dom João desembarcava no porto do Rio de Janeiro. Assim, a sede do Império Português passava a ser a capital de sua antiga colônia na América. As consequências dessa mudança não demorariam a se fazer sentir. Todo o Império Português seria transformado por ela. Principalmente o Brasil, que sofreria profundas mudanças sociais, políticas e econômicas.
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