Parabéns pelo centenário de vida do querido , Seu Alírio . 29/09/2019.

Parabéns pelo centenário de vida do querido , Seu Alírio .
Quem nunca comprou um sapato na sua sapataria?
Fez parte da infância e juventude de muitos Filhos de Serra Branca.
Parabéns aos familiares também. Feliz aniversário

sábado, 28 de setembro de 2019

O outro inventor do rádio, o Padre brasileiro Landell de Moura foi pioneiro na transmissão de voz.

Você, como quase todos nós, deve ter aprendido que o inventor do rádio foi um italiano chamado Guglielmo Marconi. Mas provavelmente nunca ouviu falar de Roberto Landell de Moura, o padre brasileiro responsável por fazer em 1894 (dois anos antes de Marconi) uma expe­riência pioneira de radiodifusão – mas que acabou menosprezado pelos registros históricos.
Nascido em Porto Alegre e educado em Roma, Landell foi a São Paulo exibir seu invento ao público – e tentar arrumar um patrocinador. Ele transmitiu a voz humana por 8 quilômetros em linha reta, da avenida Paulista até o Alto de Santana, na zona norte da cidade. (Detalhe: o rádio inventado por Marconi só transmitia sinais telegráficos.) Ainda assim, o sucesso do experimento não se converteu em muito dinheiro.
Em 1900, Landell repetiu o experimento – agora na presença de jornalistas e de um representante do governo britânico. A notícia repercutiu, mas não do jeito que ele planejara: alguns religiosos se indignaram quando souberam que um padre estava fazendo “bruxarias”. Dois dias depois da demonstração, meia dúzia de fiéis invadiu o modesto laboratório do religioso para quebrar todos os seus aparelhos.
No ano seguinte, o padre foi tentar a sorte nos EUA, onde impressionou a comunidade científica. Eis que o esperado dinheiro parecia estar chegando: empresários americanos ofereceram uma fortuna a Landell. Só que, patriota ferrenho, ele a recusou. O padre acreditava que as invenções pertenciam ao Brasil. Ele conseguiu patentear suas invenções em 1904. Tarde demais: Marconi já o havia feito em 1896.
Ao voltar para o Brasil, Landell tentou mais uma vez convencer o governo a financiá-lo. Seu plano incluía uma demonstração envolvendo dois navios da Marinha. Ao ser perguntado sobre a distância que os navios deveriam ficar um do outro, o padre perdeu uma incrível chance de ficar calado. Sua resposta foi: “Coloquem-nos na maior distância possível, pois esse invento um dia permitirá até conversas interplanetárias!” Foi o suficiente para ser taxado de louco por querer falar com ETs. Desiludido com a falta de apoio, acabou abandonando a ciência e dedicando-se exclusivamente à vida religiosa.

TEXTO:Guilerme Campos
FONTE: super.abril.com.br

100 anos de Jackson do Pandeiro.

Há cem anos, nascia, na cidade de Alagoa Grande, na Paraíba, o cantor e compositor, José Gomes Filho, mais conhecido como Jackson do Pandeiro.
Assim como o saudoso Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro foi uma figura fundamental para a popularização da música nordestina em todo o Brasil.
Na Paraíba, várias atividades culturais estão previstas para este ano, em comemoração ao centenário do artista.
Nada mais justo quando falamos de alguém que tanto contribuiu para enriquecer a música e a cultura de nosso país.
Salve o inesquecível Jackson do Pandeiro!

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Outro lado do terror nazista: Os bordeis de Auschwitz.

E. sente que sua hora chegou. Mas os SS têm para ela não a morte imediata, mas uma proposta. É um trabalho leve, de meras duas horas por dia. Receberia uma ração extra e alojamento aquecido. Depois de seis meses, seria libertada.
Era uma proposta que não podia ser recusada. Quando ela é encaminhada para o banho, é só um banho mesmo. Sem demoras, segue-se o exame médico. Um ginecologista testa, apalpa, observa e faz perguntas sobre sua saúde, todas concentradas em sua vida sexual. Depois diz que precisa passar por uma pequena cirurgia. Que exige, porém, anestesia geral. No dia seguinte, Eva acorda com pontos no abdômen.
Ao ter alta, é apresentada a seu alojamento. No lugar de um uniforme, ganha um vestido e roupas de baixo. Coisa cara, tomada de uma vítima mais rica. E, de fato, o lugar é muito mais decente que os beliches infestados de percevejos aos quais estava acostumada. Recebe também um café da manhã. E é a mesma ração dada aos guardas. São quase 20h, hora do expediente. “Fique quieta, faça o trabalho, e nada de ruim vai acontecer”, é instruída.
Finalmente ela é conduzida ao local de trabalho. Um quarto. Antes que possa terminar de ligar os pontos, um homem adentra. É um prisioneiro como ela. Alemão, como ela. Um dos “triângulos verdes”, bandidos comuns usados pelos nazistas como força de repressão. Ouve, por trás das paredes, carrascos da SS dando risadinhas. E nota que há buracos nas paredes. Eles seriam observados.
A escolha era trabalhar ou tomar uma surra e ir parar na câmara de  gás. Sete outros a visitam naquela noite. E assim passaria a ser por três dias por semana mais as tardes de domingo. Até dez homens por dia.
Todos os dias, Frau E. podia ver pela janela a entrada do campo, logo em frente ao prostíbulo. Mas a promessa de libertação nunca seria cumprida. Algumas ganhariam trabalhos administrativos. Outras voltariam para o lugar de onde vieram. E havia também as destinadas a Auschwitz II — Birkenau, a seção de extermínio.
Eterno tabu
A história aqui contada é uma composição de diversos testemunhos, a grande maioria deles fragmentários ou dados não por quem viveu, mas por quem ouviu falar ou conversou com elas. Particularmente a descrição geral que Iga Bunalska, do Grupo de Estudos de Auschwitz, publicou num trabalho recente.
Não aconteceu apenas em Auschwitz I. Foram dez deles, como em Sachsenhausen, Dachau e Monowitz (também conhecido por Auschwitz III; um campo separado, a vários quilômetros do mais famoso. Em todos, menos Auschwitz, as prisioneiras vinham do campo feminino de Ravensbrück, de onde não só eram mandadas para bordéis em campos de extermínio como para instalações do Exército.
Numa estimativa citada por Insa Eschebach, diretora do Centro Ravensbrück, foram no mínimo 200 delas. Vinte e uma das quais trabalhavam no Bloco 24 de Auschwitz.
Prisioneiras em Ravensbrück / Crédito: Reprodução/ Museu do memorial do Holocausto dos EUA
“Quando falamos nos bordéis, não há quase nenhuma fonte existente sobre o assunto”, afirma a historiadora. “Parece que o assunto ainda é um tabu. Depois da guerra, as pessoas fingiram que esse tema não existiu.”
Além do profundo trauma pessoal, há um estigma da velha moral sexual. Várias das mulheres forçadas à prostituição, usando o triângulo preto, haviam sido presas por se prostituírem.
“É uma ironia que, enquanto os nazistas tentavam restringir a prostituição nas cidades alemãs, eles a institucionalizaram nos campos”, afirmou o historiador alemão Robert Sommers, autor de Das KZ Bordell (O Bordel do Campo de Concentração), em entrevista à Reuters.
Também havia o risco bem real de serem vistas como colaboradoras — e as diversas cenas de ex-amantes dos oficiais nazistas arrastadas pelas ruas e tendo os cabelos raspados pela multidão enfurecida, na liberação, mostram que, absolutamente, essa não era uma preocupação infundada.
O estigma já existia enquanto os campos estavam abertos. Num documentário para a TV pública alemã ARD, a prisioneira soviética Nina Mikhailovna, uma civil de 20 anos capturada na Bielorrússia para trabalhos forçados, que viveria em São Paulo antes de se estabelecer nos EUA, contou:
“Quando descobrimos que uma garota no nosso bloco foi escolhida, nós a pegamos, jogamos um lençol em cima dela e a espancamos com tanta força que ela mal podia se mexer. Não era certo se ela se recuperaria. Elas só queriam uma vida melhor, e nós as castigamos por isso”.
Produtividade
A ideia partiu de Heinrich Himmler, comandante da SS e responsável pelo programa de extermínio, engenheiro do Holocausto. Ele afirmou que isso serviria para motivar os trabalhadores forçados. E, em suas palavras, “evitaria homossexualismo” nos campos.
Parecia uma piada de mau gosto — a maior de todos os tempos, se de fato era. Uma forma adicional de humilhar os prisioneiros famélicos, não exatamente dispostos ao sexo em sua condição. Essa foi a opinião expressa por vários deles.
“Qualquer um que pense que o Bloco 24 era alguma espécie de presente aos prisioneiros não entende Auschwitz”, afirmou o prisioneiro polonês Jozef Szajna em seu testemunho. “Foi feito para humilhar as pessoas. Era só mais um exemplo do cinismo e crueldade dos alemães. Os bordéis não eram nada de excepcional. Só foram outro crime do Nacional Socialismo alemão.”
Acreditasse ou não Himmler no que estava fazendo, o primeiro campo abriu em Mauthausen/Gusen em 1942. Auschwitz ganharia o seu em 30 de junho de 1943. Eles permaneceriam ativos até os últimos dias.
O bordel de Mauthausen / Crédito: Wikimedia Commons
Himmler não estendeu sua concessão aos judeus, que estavam lá com o propósito de morrer, menos que trabalhar. Eram prisioneiros alemães e eslavos que estavam nas duas pontas da cama. Judias, apesar de certas histórias que hoje são muito contestadas, também não foram alistadas. A única mulher que participou do programa e não era alemã ou eslava foi uma prisioneira política holandesa.
O plano era destinado aos trabalhadores especiais dos campos. Eram sobretudo prisioneiros alemães por crimes comuns, servindo de kapos, seguranças internos, ou em funções na indústria química I.G. Farben, instalada em Auschwitz III. Segundo o historiador Robert Sommer, menos de 1% da população aprisionada visitou os bordéis nos campos.
Piotr Setkiewicz, diretor do Centro de Pesquisas do Museu de Auschwitz, afirma que os administradores punham “um enorme valor na existência desse tipo de instituição no campo e, como sua correspondência indica, tratavam isso como um fator central em aumentar a produtividade dos prisioneiros”.
Os que visitavam eram os que recebiam prêmios por superarem cotas de produção. Esse dinheiro também servia para comprar cigarros, alimentos e outros privilégios. Os 15 minutos no bordel custavam 2 reichsmarks. Parte ia para a mulher, parte para o campo. Um prisioneiro que quisesse participar do programa precisava colocar o nome numa lista.
No fim do dia, no pátio onde recebiam ordens, tinha seu nome chamado publicamente. Era então levado ao Bloco 24, a Frauenhaus (casa das mulheres), como era chamada eufemisticamente. Antes de terem acesso à prisioneira, eram postos nus diante de um médico, que besuntava seus pênis com pomada antisséptica. Alguns recebiam injeções.
Era oficialmente proibido, mas alguns oficiais alemães também frequentaram os bordéis, subornando os responsáveis. É de imaginar que tivessem uma atitude bem diferente da dos prisioneiros. Nem todos os prisioneiros aceitaram o convite.
“Muitos, especialmente os prisioneiros políticos bem informados, tentavam evitar a exposição a chantagens por parte da SS”, testemunhou o sobrevivente Fritz Kleinman. “Intrigas surgiram entre os clientes do bordel e transferências punitivas e espancamentos foram o resultado das escapadelas dos prisioneiros especiais.”
Decisão forçada 
Laqueaduras como no caso que abre a matéria não eram universais. E, feitas nas condições do campo, algumas terminavam em morte. As mulheres que não eram esterilizadas poderiam terminar grávidas e sofrer abortos forçados, que também podiam acabar em morte.
Uma história contada pela sobrevivente Zofia Bator-Stepien relata que uma moça que ela conheceu se inscreveu imediatamente no programa. “Quando o médico terminou de examiná-la, perguntou se ela fazia a menor ideia de para onde estava indo. Ela disse que não, mas ouviu que ela ganharia muito pão.”
O médico também avisou: “Pense cuidadosamente sobre isso, porque, mesmo que isso te dê uma chance de sobreviver a Auschwitz, você pode querer ser mãe no futuro, e isso não será possível”. Ao que ela respondeu: “Não quero ser mãe. Só quero pão”.
E isso nos leva a um ponto central: a questão de muitas das mulheres terem sido voluntárias, de que há relatos, como outro caso contado por Zofia Bator-Stepien, delas à vontade com o cargo, desfilando em roupas de luxo e maquiagem pelo campo, e inclusive tentando continuar quando dispensadas.
Em Auschwitz / Crédito: Getty Images
“É impossível falar em livre-arbítrio quando você leva em conta as condições em que elas eram forçadas a tomar essa decisão”, registrou a sobrevivente Nanda Herbermann (1903-1979) em seu livro-testemunho Der Gesegnete Abgrund (O Abismo Abençoado).
Nanda, uma católica presa por divulgar material antinazista, foi forçada a cuidar do bloco de prostitutas em Ravensbrück. Ou, como define Insa Eschebach: “Sei que pensamos sobre isso por uma perspectiva diferente, mas, para muitas delas, foi uma decisão muito simples: era ou o bordel e a sobrevivência ou a câmara de gás”.
As relações com prisioneiros podiam ser amigáveis. Frau B., um dos casos lembrados numa exibição recente do Centro Ravensbrück, afirmou que eles tendiam a ser respeitosos. “Estavam presos por anos e ficavam felizes em terem qualquer contato humano”, afirmou.
Ela lembrou que, vez ou outra, a sessão se limitava a uma conversa. B. também comentou sobre a vigilância dos guardas. “Estávamos tão dessensibilizadas que simplesmente pensávamos: ‘Que se dane, morram de olhar, malditos’.”
Mas nem sempre os olhares eram por voyeurismo. E essa é uma outra parte da perfídia dessa história. Os prisioneiros do triângulo rosa eram observados não apenas por guardas mas por médicos especialmente designados.
Cerca de 100 mil gays foram presos pelos nazistas e, desses, entre 5 mil e 15 mil foram mandados para os campos de extermínio. Não se sabe quantos sobreviveram, mas o número é provavelmente bem baixo.
O triângulo rosa marcava um prisioneiro para atrocidades homofóbicas pelos guardas e outros prisioneiros. Há casos de SS brincando de tiro ao alvo com seus triângulos cor-de rosa. A eles eram dados trabalhos dos mais extenuantes.
E tudo isso não era simplesmente pela ideia de extermínio. Mas de procurar uma “cura gay”. O trabalho extenuante era parte do “tratamento”. Vários sofreram com experimentos feitos com hormônios, outros foram castrados.
Himmler inspeciona tropas / Crédito: Wikimedia Commons
E, em Auschwitz, Himmler em pessoa ordenou um experimento mais “psicológico”: sexo forçado com as trabalhadoras do Bloco 24, uma vez por semana. Não é preciso entrar em detalhes para entender como foi uma experiência traumática para os dois lados.
Fracasso
Do ponto de vista mais cínico e prático possível, o programa dos bordéis foi um fracasso. “Por tudo o que descobri, não funcionou”, diz Sommer. “Pouquíssimas pessoas estavam em condições físicas de realmente usá-los.”
Não há dados, mas historiadores como Sommer e Isa acreditam que a maioria das prostitutas, dado simplesmente não estarem passando fome, sobreviveu ao período no campo.
Mas, a essas, restaria um injustificável estigma para o resto da vida. “Não sabemos de nenhuma que tenha sido compensada pelo que passou”, afirma o historiador. “É importante que essas mulheres recebam de volta parte de sua dignidade.”

Nova descoberta: primeiros humanos da América vieram remando do Japão.

Os livros de história afirmam que o ser humano chegou ao continente americano caminhando por meio do estreito de Bering, há aproximadamente 13.500 anos, durante a Era do Gelo. No entanto, uma nova descoberta, publicada na revista Science, aponta algo diferente. Segundo o artigo, os primeiros homens da América chegaram ao continente remando ao longo da costa do Pacífico e rio acima, mil anos antes do que se acreditava. O mais surpreendente é que esses colonizadores pioneiros teriam vindo do Japão
Ferramentas de pedra, carvão, rochas lascadas e fragmentos de ossos de grandes animais foram encontrados em uma escavação na localidade de Cooper's Ferry, em Idaho, nos Estados Unidos. Esses artefatos são a evidência mais antiga da presença humana na América do Norte, datando aproximadamente de 15.000 a 16.000 anos.
Os cientistas acreditam que eses primeiros povos vieram ao longo da costa do Pacífico, encontraram o rio Columbia e dali remaram até o interior da América do Norte. Os artefatos mais antigos do sítio arqueológico são similares aos encontrados no noroeste da Ásia, especialmente na ilha Hokkaido, no Japão, o que respalda a teoria de que os primeiros humanos que chegaram ao continente vieram daquela região.
A descoberta não invalida a teoria de que houve uma migração humana pelo caminho de gelo do Estreito de Bering. Significa apenas que outros humanos já estavam na América do Norte quando isso aconteceu.

Imagem: Teresa Hall/Oregon State University/Reprodução

Fonte: La NaciónCNN e opb.org
Imagem: eWilding/Shutterstock.com

Lanceiros Negros.

Durante a chamada Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul (1835-45), quando um homem livre era chamado a servir tanto nas forças rebeldes quanto nas imperiais, podia enviar em seu lugar (ou no lugar de um filho seu) um de seus trabalhadores escravizados. Em alguns casos, o alforriavam e alistavam. Também foi prática comum buscar atrair ou tomar cativos das tropas inimigas, trazendo-os para seu lado. O primeiro exército a utilizar negros escravizados como soldados foram os imperiais. Precisando também formar uma infantaria e sobretudo preferindo enviá-los como bucha-de-canhão, morrendo na frente em seu lugar, farrapos também os alistaram: eram os famosos Lanceiros Negros. Ambos, farrapos ou imperiais, prometiam também liberdade aqueles que desertassem das tropas rivais, mudando de lado.
A maioria dos cativos que combateu nesta guerra foi obrigada a fazê-lo diante das condições impostas. Por outro lado, apesar da guerra ser horrível e violenta, era até preferível a vida militar, com seus esporádicos combates, do que as agruras diárias da escravidão. A promessa de liberdade após o fim da luta certamente pode ter influenciado em muito o recrutamento daqueles homens. Uma promessa, aliás e como veremos, jamais cumprida.
Não havia igualdade nas tropas farroupilhas, muito menos democracia racial. Negros e brancos marchavam, comiam, dormiam, lutavam e morriam separadamente. Os oficiais dos combatentes negros eram brancos, e jamais um negro chegou a um posto significante, mesmo que intermediário, de comando. Aos Lanceiros Negros era vedado o uso de espadas e armas de fogo de grande porte. Não lutavam a cavalo, como costumam mostrar nos filmes e mini-séries de TV, mas sim a pé, pois havia o risco de se rebelar ou fugir. Sua arma principal era a grande lança de madeira que lhes deu nome e fama, algumas facas, facões, pequenas garruchas, os pés descalços, a bravura e o anseio pela liberdade prometida.
Seria anacronismo se quiséssemos que líderes farroupilhas tivessem um comportamento ou posições políticas avançadas e assim diferentes das existentes em seu tempo, mas defesa da Abolição da escravidão era bem conhecida e nada alienígena na época. Uma Abolição começou a ser decretada em Portugal em 1767, proibindo que fossem enviados para o reino mais cativos vindos da África, e em 1773 foi decretada uma Lei do Ventre Livre naquele país. Na Dinamarca, isso se deu em 1792. Na França, em 1794 (ainda que Napoleão tenha tentado restabelecer a escravidão no Haiti em 1802). No México, uma primeira tentativa de Abolição foi feita em 1810, mas foi finalmente vitoriosa em 1829. Bolívar libertou cativos em 1816-7, durante suas lutas por independência, e finalmente aboliu a escravatura em 1821. A Inglaterra, que havia findado a escravidão pouco antes da Revolta dos Farrapos, pressionava o Brasil pelo fim do tráfico negreiro desde 1808. Willian Wilbeforce, um dos maiores abolicionistas da história, morreu em 1833, ou seja, dois anos antes da guerra no Sul do Brasil. Farrapos, portanto, conheciam, sim, e muito bem o abolicionismo.
Entretanto,os principais chefes farrapos, Bento Gonçalves, Canabarro, Gomes Jardim e até Netto, dentre outros, eram todos ferrenhos escravistas. Quando aprisionado e enviado para a Corte no Rio de Janeiro, Bento Gonçalves teve o direito de levar consigo um de seus cativos para lhe servir. Ao morrer, o mais conhecido líder farroupilha deixou terras, gado e quase cinqüenta trabalhadores escravizados de herança aos seus familiares. Bem diferente do que fizera Artigas no Uruguai anos antes, os farrapos jamais propuseram uma reforma agrária ou mesmo uma distribuição de terras entre seus soldados, mesmo os brancos pobres, que dirá os negros. A defesa da escravidão era tão clara entre os chefes farrapos a ponto deles jamais sequer terem mencionado o fim do tráfico negreiro.
Ao fim da guerra e já quase totalmente derrotados, os farrapos incluíram entre suas exigências para o Império o cumprimento da promessa de liberdade que haviam feitos aos Lanceiros (principalmente porque temiam que eles formassem uma guerrilha negra na província já que a quebra da promessa os faria se rebelar ou fugir para o Uruguai, destino comum de diversos cativos fugitivos na época). Queriam entregar-se ao Império, acabar a guerra, voltar à normalidade, mas tinham os Lanceiros e a promessa que lhes haviam feito, e o Império, escravista até a medula, não queria cumprir essa parte do acordo.
Que fazer então? A questão foi resolvida na madrugada de 14 de novembro de 1844, quando o general farrapo David Canabarro entregou seus Lanceiros desarmados ao inimigo, tudo previamente combinado com Caxias. E no serro de Porongos, hoje região de Pinheiro Machado (interior do Rio Grande do Sul), foi dizimada quase toda a infantaria negra, enterrando de vez a preocupação dos farrapos e acelerando assim a paz com o Império. A instrução de Caxias a um de seus comandados foi clara e objetiva: a batalha teria que ser conduzida de forma tal que poupar apenas e dentro do possível o sangue de brasileiros (e o negro era então tratado como africano, mesmo que já nascido no Brasil).
Alguns historiadores apologistas ou folcloristas de CTGs consideraram aquela traição como Surpresa, já que pela primeira vez que o então vigilante Davi Canabarro teria sido surpreendido pelo inimigo. Conversa fiada! Enquanto dispôs suas tropas negras de tal maneira que ficassem desarmadas e descobertas, algo que até então nunca havia feito, Canabarro se encontrava bem longe e seguro do local, nos braços de Papagaia, alcunha de uma amante sua.
Após o combate, um relato oficial avisou a Caxias que pelo menos 80% dos corpos caídos no campo de Porongos eram de homens negros. Calcula-se que, nos últimos anos daquela conflito, os farrapos ao todo somavam uns cinco mil homens, sendo que algo em torno de mil eram Lanceiros Negros. Após o Massacre de Porongos, porém, restaram apenas uns 120 deles, feridos, alguns mutilados, e que foram primeiramente enviados para uma prisão no centro do país e depois dispersados para outras províncias, ainda mantidos como cativos.
Feito isso, deu-se a chamada rendição e paz do Poncho Verde, onde senhores escravistas dos dois lados trocaram abraços e promessas de lealdade e, logo depois, marcharam juntos e sob a mesma bandeira imperial contra o Uruguai, Argentina e Paraguai.
Bibliografia
FACHEL, José Plínio Guimarães. Revolução Farroupilha. Pelotas: EGUFPEL, 2002.

A primeira certidão de nascimento do país é um crânio de 11 mil anos encontrado em 1975. Mas há quem diga que estamos por aqui há mais tempo.

Durante quase 500 anos o Brasil praticamente ignorou uma parte do seu passado. A maior delas. Na escola, a primeira aula de história começa com o descobrimento do Brasil como se nada tivesse acontecido antes. No entanto, quando os portugueses chegaram, em 1500, civilizações avançadas e poderosas estavam no auge, outras já haviam desaparecido, mas deixado vestígios de passagem e de história no Brasil.
O naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund, em 1836, foi o primeiro a se interessar pelo Brasil pré-cabralino e tornou-se uma espécie de patrono da arqueologia e da paleontologia no país. Sua descoberta mais importante aconteceu na Gruta do Sumidouro, perto de Lagoa Santa, MG. Em meio aos ossos de grandes mamíferos, ele achou os primeiros fósseis humanos no Brasil.
Em busca do primeiro brasileiro, Peter encontrou mais perguntas que respostas (algumas ainda sem solução). A primeira – e talvez a mais controversa de todas – é como e quando o homem passou a ocupar o território americano e, por extensão, o brasileiro?
A teoria mais aceita é que os primeiros grupos humanos a chegar por aqui atravessaram da Ásia para a América pela Beríngia (região no extremo norte do continente, que há 15 mil anos, durante o fim da era glacial, ligava os dois continentes). A pé, os novos habitantes começaram a migrar para o sul, em busca de regiões mais quentes. Até a Patagônia, no limite sul da América, eles teriam levado algo em torno de 2 mil anos.
Mas há quem discorde. A arqueóloga brasileira Niède Guidon, que há mais de 40 anos estuda os vestígios da presença humana na região da Serra da Capivara, no Piauí, acredita que o homem americano já ocupava o Brasil há mais de 60 mil anos. Sua pesquisa, que tem base em vestígios humanos cujas datações indicaram ter 48 mil anos de idade, é fruto do documentário Niède, de Tiago Tambelli, que acaba de ser lançado no país.
Segundo a arqueóloga, a ocupação das Américas começou entre 80 e 100 mil anos atrás e o primeiro americano teria vindo da  região da Austrália em embarcações simples – uma tese questionada dentro e fora do Brasil. Para os críticos, esperar que um aborígine de mais de 50 mil anos atrás atravessasse o Pacífico seria como pedir a Cristóvão Colombo que, em vez de cruzar o Atlântico para vir ao Novo Mundo, fincasse a bandeira na Lua.
Mas Niède Guidon não está sozinha quando marca o início da presença humana no Brasil, além dos paradigmais 15 mil anos. O trabalho da arqueóloga Águeda Vilhena Vialou, entre o Museu de Arqueologia da USP e o Museu de História Natural de Paris, indicou a existência do homem no Mato Grosso, na Fazenda Santa Elina, há cerca de 23 mil anos. Lá, foram encontradas pinturas nas paredes e grande quantidade de pedras trabalhadas. “Fizemos três datações diferentes, em três materiais distintos: ossos, sedimentos e carvão. Todos à mesma data, entre 22 e 23 mil anos”, contou.
Homens da Lagoa Santa
A arqueóloga Adriana Schmidt Dias, da UFRGS, acredita que o primeiro brasileiro descende de uma das várias correntes migratórias vindas da Ásia, que ocorreram a partir de 15 mil anos atrás. A mais antiga dessas levas de humanos teria chegado ao Brasil há cerca de 12 mil anos e ficado conhecida como Os Homens da Lagoa Santa, nome dado em homenagem ao sítio arqueológico onde foram localizados – o mesmo pesquisado pelo dinamarquês Lund. Desse povo, faz parte o fóssil humano descoberto em 1975, que viveu por aqui há cerca de 11,5 mil anos e foi batizado pelos cientistas de Luzia, a mais antiga brasileira descoberta até hoje.
Mais antiga pintura rupestre da América, encontrada em Lagoa Santa / Crédito: Reprodução

Luzia era uma caçadora e coletora de vegetais, com traços bem distintos dos índios que Pero Vaz de Caminha descreveu em sua carta, em 1500. Em 1999, a Universidade de Manchester, na Inglaterra, reconstituiu o rosto de Luzia: ficaram óbvios os traços negroides, típicos de populações africanas e da Oceania.
Luzia e seus amigos viviam em pequenos grupos e eram nômades, sempre procurando encontrar vegetais e animais de pequeno porte, como o porco-do-mato e a paca, que eles caçavam com a ajuda de lanças e de flechas com pontas feitas de pedras lascadas. Não ficavam mais que duas semanas no mesmo lugar. Por isso, não costumavam enterrar seus mortos. O corpo de Luzia foi encontrado jogado no fundo de uma caverna.
Por volta de 6 mil anos atrás esse povo desapareceu. A explicação para isso é o surgimento de outro grupo de humanos, dessa vez, parecidos com os índios atuais. Eles chegaram em muito maior número e passaram a ocupar a região. As populações se misturaram, segundo Adriana, mas com o tempo as características dos Homens da Lagoa Santa submergiram. Essa nova leva de viajantes chegou a ocupar toda a costa brasileira e o Planalto Central até 2 mil anos atrás.
“Esses bandos chegavam a uma região, montavam acampamento, geralmente em grupos de cinco a dez famílias em pequenas faixas de terra”, diz a pesquisadora. De acordo com ela, eles retiravam da região tudo o que podiam: vegetais, peixes e animais. Assim que esgotavam esses recursos e que os acampamentos apresentavam problemas sanitários, como o aparecimento de insetos em grandes quantidades, iam embora.
Civilização das Conchas
Alguns dos descendentes desses novos habitantes criaram, no litoral do Brasil, uma das civilizações mais características e inusuais do período pré-cabralino. Eles ocuparam do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul entre 6 mil e mil anos atrás, e ficaram conhecidos pelas edificações que erguiam para sepultar seus mortos: os sambaquis. São pilhas de sedimentos, principalmente conchas e ossos de animais, cuidadosamente empilhados e que chegavam a ter 40 metros de altura e mais de 500 metros de comprimento.
A princípio, os arqueólogos acreditavam tratar-se de grandes depósitos funerários, mas, com a descoberta sistemática de novos sítios, ficou provado que os sambaquis eram o centro da vida social desses povos, chamados sambaquieiros. Ali, eles sepultavam seus mortos, realizavam rituais e construíam suas casas.
Crédito: Martha Werneck

“Eles se alimentavam basicamente da pesca e da coleta de frutos do mar, feitas com o auxílio de canoas e redes”, explica o arqueólogo Paulo de Blasis, da USP. O sambaquieiro era baixo, no máximo 1,60 metro. A mortalidade infantil era altíssima, entre 30 e 40% dos corpos encontrados eram de crianças. Quem chegava à idade adulta também não ia muito longe: para os homens a perspectiva de vida era de 25 anos e as mulheres chegavam, no máximo, aos 35. Outro mito que as pesquisas vêm derrubando é que os sambaquieiros eram nômades, indo de um lugar para outro assim que se encerravam os recursos naturais.
“Era uma civilização com estabilidade territorial e populacional. Um conjunto de sambaquis como os do sul de Santa Catarina podia reunir até 3 ou 4 mil habitantes”, conta Paulo. Para ele, uma ocupação dessa montada, por tanto tempo, só seria viável com um alto grau de complexidade social, que deveria incluir a divisão de tarefas e instituição de chefias regionais.
Nos sambaquis foram encontrados também esculturas e ornamentos feitos de pedra polida, que eram colocados junto aos corpos sepultados. Representando animais como o tatu e a baleia, esses objetos demonstram um delicado senso estético, que exigia habilidade especial.
Segundo Dione Bandeira, do Museu Nacional do Sambaqui, em Joinville, SC, é possível que houvesse pessoas designadas para produzi-los, até como algum tipo de ritual. Os sambaquieiros desapareceram há cerca de mil anos, com a chegada de povos agricultores vindos do planalto. “Eles provavelmente foram se afastando cada vez mais de seu local de origem, esquecendo suas tradições e se misturando ao conquistador”, descreve o arqueólogo da USP.
Os povos da Amazônia
A Amazônia foi o berço de culturas avançadas, que viveram mais de mil anos antes de Cabral chegar ao Brasil. Os registros mais antigos da presença dos homens na região foram descobertos pela arqueóloga norte-americana Anna Roosevelt, em 1996. Ela encontrou pinturas rupestres datadas de 11 mil anos, na região de Monte Alegre, PA.
 Na região da Ilha de Marajó, uma importante civilização se desenvolveu entre os anos 400 e 1300 d.C. A civilização marajoara dominava a agricultura e possuía aldeias que chegaram a abrigar 5 ou 6 mil habitantes. Os marajoaras eram excelentes engenheiros e construíram aterros artificiais que se elevavam até 12 metros acima do solo.
“Esses aterros exigiam a mobilização de um grande contingente de mão de obra e uma liderança constituída e respeitada”, afirmou o arqueólogo Eduardo Neves, da USP. Tal requinte se refletia na criação de sua cerâmica. De caráter cerimonial, seus desenhos correspondem ao mundo simbólico e religioso dos marajoaras. Eles desapareceram misteriosamente por volta de 1300.
Crédito: Reprodução

Mas a superpotência da época era a civilização tapajônica, que ocupava a região da atual cidade de Santarém, PA. Mesmo depois do contato com os europeus, ainda era uma das maiores e mais poderosas nações indígenas da Amazônia. Objetos de sua cerâmica foram localizados em lugares distantes, o que indica que havia contato intenso entre os tapajós e tribos vizinhas, incluindo comércio. Segundo Eduardo, havia um poder central exercido por chefe tapajó, reunindo várias tribos vizinhas. E algumas aldeias eram tão populosas que seus caciques podiam mobilizar até 60 mil homens para o combate.
 A Amazônia também foi o ponto de partida para a migração de um povo tecnologicamente avançado e conquistador, que levou ao declínio os brasileiros coletores e caçadores, e que se espalhou de forma inédita pelo país: os tupi. Partindo de onde hoje ficam os estados de Rondônia e do Amazonas, eles deixaram a região em duas levas principais: os tupi-guarani desceram o Rio Paraná e chegaram à região sul; os tupinambá seguiram pelo Rio Amazonas até sua foz e, dali, rumo ao sul pela costa.
Eles viviam em grandes aldeias, cujas populações chegavam a ter milhares de pessoas. “Se organizavam em chefaturas, isto é, uma reunião de tribos em que algumas aldeias seriam mais importantes e teriam influência sobre outras”, explica o professor e historiador Paulo Jobim. Segundo ele, as aldeias funcionavam como cidades, com famílias inteiras, com tios, primos, pais, avós e filhos vivendo numa mesma casa.
“A hierarquia das tribos era baseada no parentesco”, diz. Os espaços comuns desses lugares, normalmente na área central, eram dedicados às práticas religiosas e sociais. Eles conheciam a agricultura, principalmente a de hortaliças, de mandioca e de milho, e produziam cerâmicas práticas, principalmente para cozinhar. A guerra, além de demarcar territórios, era tida como oportunidade para o desenvolvimento de lideranças, que se baseavam sobretudo na coragem, na oratória e nos laços familiares.
 A expectativa de vida era curta, não ultrapassando os 40 anos de idade em média. Por isso, os mais idosos eram muito respeitados, ocupando papel de destaque na sociedade. A divisão do trabalho também era feita por sexos: os homens caçavam, as mulheres coletavam, cuidavam das crianças e do preparo do solo para a agricultura. Além disso, eram as responsáveis pela produção da arte em cerâmica.
 “Os guarani eram um povo conquistador e exclusivista”, descreve o historiador Pedro Schmitz. “Seus parentes tornavam-se aliados, mas outros povos eram considerados inimigos e expulsos, dizimados ou incorporados, às vezes, literalmente, já que eram antropófagos.” Os nossos descendentes que estavam na praia, naquela manhã de 22 de abril de 1500.
Amazônia

sábado, 21 de setembro de 2019

A Fera de Macabu: a história do erro judiciário que levou um inocente para a forca e marcou o fim da pena de morte no Brasil.

Manuel da Mota Coqueiro era um rico fazendeiro da região de Macaé, Rio de Janeiro. Possuidor de muitos inimigos ricos e influentes, esse homem foi vítima de um dos maiores erros judiciais da história do país. Sua morte, por enforcamento, mostrou a face cruel da influência política nos julgamentos da época e a forte dúvida em relação à sua inocência impulsionou o debate sobre a crueldade e insanidade da pena capital aplicada pelo Estado.
Devido ao fim do tráfico negreiro com a lei Eusébio de Queirós, Mota Coqueiro e diversos outros fazendeiros da época iniciaram a prática do regime de parceria com colonos livres. Nas suas terras da fazenda Bananal, foi residir e trabalhar o meeiro Francisco Benedito da Silva, acompanhado de sua numerosa família.
Embora com idade avançada e já tendo filhos e enteados, Mota Coqueiro teve um caso amoroso com Francisca, uma das filhas de Francisco Benedito. A jovem acabou engravidando e seu pai, ao saber do caso, passou a pressionar o fazendeiro, pedindo vantagens econômicas como compensação pela gravidez da filha.
A partir de então, ocorreram vários conflitos entre Mota Coqueiro e Francisco Benedito, o qual foi ameaçado de expulsão das terras que ocupava. O colono foi apoiado por alguns pequenos proprietários dos arredores. Em certa ocasião, Francisco Benedito e um amigo, pequeno proprietário da região, emboscaram e agrediram Mota Coqueiro quando ele vistoriava a fazenda Bananal.
Mota Coqueiro tinha vários inimigos pessoais com influência na política local. Dentre eles, seu primo, Julião Batista Coqueiro, que o odiava por nutrir por ele um sentimento de vingança. Vinte e cinco anos antes, quando Julião Batista foi estudar longe de Macaé, Coqueiro aproveitou-se da ausência do primo para cortejar e casar com sua antiga noiva. Sua primeira esposa, porém, morreu algum tempo depois e o fazendeiro casou-se com Úrsula das Virgens, a qual era viúva e tinha um filho.
Também era mal visto na região por alguns padres e fazendeiros católicos, pois tinha tomado posse de várias extensões de terras, entre as quais, antigas propriedades dos Jesuítas que ficaram desocupadas quando estes foram expulsos do Brasil.
Em uma noite chuvosa de 1852, Francisco Benedito e toda sua família foram mortos a golpe de facões por um grupo de cerca de oito negros, escapando somente Francisca, a filha grávida. A casa foi incendiada, mas a chuva não permitiu que os corpos fossem queimados totalmente. Além de Francisco Benedito, foram assassinados a sua esposa, três filhos adolescentes e três crianças, uma delas com três anos de idade.
Mota Coqueiro tinha chegado na fazenda Bananal na tarde deste dia. Durante o horário provável em que ocorrera o crime, estava na casa grande em reunião de negócios com vários empresários locais que desejavam comprar madeira das suas terras. A distância entre o local em que estava Mota Coqueiro e o local onde ocorreu o crime era de menos de 2 quilômetros e ninguém presente na reunião percebeu qualquer movimento anormal na fazenda.
Francisca, a filha sobrevivente, fugiu durante dois dias pelas matas, até que pediu auxílio em uma fazenda de Julião Batista, na qual morava um amigo próximo do primo e desafeto de Coqueiro. Este imediatamente levou o caso às autoridades competentes. O delegado e o subdelegado de Macaé acusaram Mota Coqueiro de ter sido o mandante da chacina.
Alguns dias após o crime, fugindo a cavalo, Coqueiro é reconhecido e preso, após pedir água em uma fazenda.
Levado para a prisão da cidade de Macaé, e sondado pela imprensa local, ganhou o apelido de "Fera de Macabu".
Após a prisão, uma série de erros e manipulações judiciais passam a ocorrer. Depois da aceitação da denúncia, os promotores do caso infringiram muitas normas jurídicas para conseguir a condenação do réu. Arrolaram como principal testemunha uma ex-escrava da fazenda de Coqueiro (na época, escravos não podiam testemunhar). A negra Balbina acusou um dos feitores da fazenda, com quem ela teve um caso amoroso, de ter sido o executor do crime a mando da Fera de Macabu, outros inimigos políticos de Coqueiro foram convocados para depor. Inimigos do réu pagavam a imprensa para criar notícias que manchassem ainda mais a sua imagem.
O fato é que em nenhum dos julgamentos conseguiu provar cabalmente a participação de Mota Coqueiro no crime. A maioria dos testemunhos não afirmava que o fazendeiro era o autor do crime, apenas informava que ele teria motivos para executar as vítimas. No fim dos julgamentos em primeira instância, Coqueiro foi condenado à forca. Seus advogados recorreram aos tribunais superiores, mas não conseguiram reverter a sentença. O caso chegou até o conhecimento de Dom Pedro II, que por pressões políticas e por não acreditar na inocência de Coqueiro, confirmou de vez o tenebroso destino do réu.
Após a negação do Imperador, Coqueiro é enviado para uma prisão no Rio de Janeiro, onde passa por um tratamento para se fortalecer fisicamente. O procedimento fazia parte da preparação do condenado para a forca. No dia da execução, o réu deveria estar forte o suficiente para caminhar até o patíbulo, ouvir a sentença final e dar as últimas palavras.
Até o final, Mota Coqueiro negou a autoria do crime. Embora se possa duvidar de sua inocência, é fato histórico notório que ele não recebeu um julgamento justo, nem foram feitas investigações detalhadas e imparciais sobre os eventos.
No dia 6 de março de 1855, três anos após o crime, a Fera de Macabu é enforcada. Antes de morrer, suas últimas palavras serviram para amaldiçoar a cidade: "Que esse lugar tenha 100 anos de atraso para pagar tudo que fizeram pra mim." A frase ficou conhecida como a maldição do Mata Coqueiro.
Há um debate muito grande em relação ao fim da pena de morte no Brasil, e se o fato realmente fez cessar esse tipo de castigo em território nacional. A verdade é que Dom Pedro II se arrependeu imensamente de não ter dado a graça ao prisioneiro e passou a ser mais flexível em conceder penas alternativas à aplicação da pena capital, além do mais, o Imperador era fã do escritor Victor Hugo, um dos maiores militantes contra a pena de morte na França.
Após a repercussão da morte de Mota Coqueiro e seus supostos cúmplices, apenas alguns outros civis foram executados, sendo que todos eles eram escravos ou negros alforriados, os quais não tinham posses nem dinheiro para garantir que sua defesa chegasse até o Imperador.
Texto - Joel Paviotti
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sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Virgulino Ferreira da Silva, "Lampião". (1897-1938).

Virgulino Ferreira da Silva, "Lampião". (1897-1938). O registro fotográfico foi realizado quando seu grupo invadiu e saqueou a cidade de Limoeiro do Norte, no interior do Ceará, em 15 de junho de 1927. ©Museu do Ceará

Aulas de capoeira, todas as Terças, quartas e quintas, no Centro de Convivência Maria Helena, centro da cidade. Pelo Projeto Crescendo com Cultura. 20/09/2019..


Aulas de capoeira, todas as Terças, quartas e quintas, no Centro de Convivência Maria Helena, centro da cidade. Pelo Projeto Crescendo com Cultura.
Grupo Capoeira Angola Palmares Serra Branca
Mestre Nô
Mestre Craúna
Instrutor Peteca

A rota seguida por Fernão de Magalhães.

No dia 20 de setembro de 1519, Fernão de Magalhães inicia, a partir de Espanha, aquela que seria a primeira viagem de circunavegação do mundo.

Já parou para pensar em como foram batizadas algumas bandas que você conhece?

Já parou para pensar em como foram batizadas algumas bandas que você conhece? Quem aí gostaria de saber de onde veio o nome dos Novos Baianos? Pois, pasme! Pouco antes de entrar no palco em um festival de uma emissora de TV, em 1969, ainda sem definição de como se chamaria o grupo, Marco Antônio Riso, organizador do evento, gritou: “Chame aí esses novos baianos!”. Ficou definido como chamaria o conjunto.